quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Relato de Parto Normal Hospitalar de Lidi Barbosa

RELATO DE PARTO HOSPITALAR DE LIDI FELICIDADE - NASCIMENTO DE ANDRÉ


Relato de uma experiência de amor, mas carregada de violências


em Maceió.


Segue uma tentativa de descrever experiências, emoções e sentimentos, porém considero que palavras não são suficientes pra expressar a experiência que tive no meu trabalho de parto.

Tudo começou com meu sonho de me tornar mãe, um sonho muito adiado, mas bastante planejado com meu esposo, André. Sempre busquei leituras e informações sobre a forma mais adequada e saudável de se ter um bebê. Antes mesmo de engravidar sabia o que queria, contudo com algumas inseguranças de pessoa leiga quando o assunto é medicina. Quando conheci o grupo Roda Gestante as minhas escolhas fizeram muito mais sentido me deixando mais certa do queria. Contudo, nem tudo são flores, as “violências” já começaram na busca pelo médico obstetra. Fui destratada. Solicitei atestado por estar passando mal (no início da gestação tive muito enjoo e trabalhava em Delmiro Gouveia – a viagem era muito desgastante, passava 3 dias por semana lá). Os outros médicos consultados ao serem questionados sobre o parto normal faziam pausas nas suas respostas ou diziam: - Vamos ver! Para mim, isso era indício de médicos cesaristas. E é realmente! Até que, com 5 meses encontrei o Dr. Antônio Sérgio, o médico que me deixou tranquila e que foi extremamente importante para que eu tivesse meu bebê de forma natural, pois tudo no hospital induz a mulher a fazer uma cesariana. Sou muito grata ao dr. Antônio Sérgio. Sempre me emociono quando falo dele.
Decidi fazer o parto normal no hospital, apesar de chorar litros ao assistir o parto domiciliar. As razões envolveram muito mais o não apoio do meu marido, do que a minha escolha. Sabia que quem iria parir era eu, que era o meu corpo, o meu filho, o meu momento, mas acreditava que meu marido também deveria fazer e sentir partícipe desse processo. Ele não se sentia seguro com o PD. Hoje vejo que não me empoderei o bastante para deixa-lo seguro. Tinha meus medos.
Meu pequeno André quis nascer no dia 14 de setembro de 2014, com 39 semanas. Às 5:30 da manhã a bolsa estourou e com isso as contrações vieram. Meu obstetra me deixou bem a vontade pra eu escolher ir pra o hospital ou ficar em casa mais tempo. Mas de qq forma ele precisava me examinar. Fui ao hospital, mas preferi fazer meu TP em casa.
 Fui ao hospital às 10h pra ser examinada, mas quis e fui encorajada pelo dr. Antônio Sérgio a voltar pra casa e passar o trabalho de parto perto de quem amo. Isso foi muito importante, o ambiente hospitalar nos faz mais mal do que bem.
Entre dores e sensações diversas fiquei em casa. As contrações aumentaram e fui para o hospital entre 15h e 16h. Mas só entrei no apt uma hora depois. Meu marido teve que brigar para que eu entrasse, havia alguma desorganização lá (não procurei saber o que houve). No apt, acompanhada do meu marido e da minha mãe, em trabalho de parto, vivi uma experiência intensa de dores, expectativa, ansiedade e prazer ao mesmo tempo. Com muito carinho e amor deles, mas também da minha amiga e fotógrafa Mônica Guimarães e do médico, que me fazia caminhar e agachar (O Hospital Arthur Ramos não tá preparado pra receber gestantes – Não tem uma bola!). Esses momentos ficaram registrados no meu coração e nas fotos da Moni.  As horas restantes no hospital foram vividas intensamente com a presença do meu marido, mãe (irmã e tia também estiveram por alguns momentos), Mônica Guimarães (registrou todo amor vivido) e do meu Obstetra Antônio Sérgio. Este profissional foi essencial nisso tudo. Em meio as dores ele me deu um estímulo extra pra que eu pudesse ajudar meu bb a nascer, pois até então estava sentada é com muito medo.
Pode-se dizer que assim como meu marido Andre Rodrigues ele tbm entrou em TP comigo andando e agachando pela sala. Isso foi muito importante.
Apesar de querer ficar ali no apt, me levaram pra o centro cirúrgico e me deitaram numa cama alta e mais estreita que meu corpo. Que medo de cair!!! Estava muito ansiosa porque sabia que o tempo de ver o rostinho do meu bb estava cada vez menor. Entre outros procedimentos, um que me deixou bastante insatisfeita foi a amarração das minhas pernas naquele aparelho ginecológico (um tempo depois fui desamarrada). O dr. disse que era necessário (não lembro a justificativa).
A Pediatra entrou no centro cirúrgico depois que já tínhamos entrado. Mal falou conosco, mas meu marido fez questão de informar o que nós não queríamos que fizessem com nosso Andrezinho. Ela foi extremamente rude, afirmando que se negaria a fazer os procedimentos dela se fosse impedida de fazer alguma coisa. Uma breve discussão se iniciou. Imaginem como fiquei! Meu marido percebeu que estava me afetando e ele que parou (dr. Antônio Sérgio e Mônica também interviram), porque se dependesse daquela “profissional” a briga não acabaria.
Andrezinho nasceu num misto de dor e de prazer imensurável. As dores físicas acabaram quando ele saiu, depois só prazer e um amor infinito. Não sei ao certo quanto tempo fiquei com Andrezinho sobre mim (no meu plano de parto pedia pelo pulsar do cordão e pra deixar amamentar se ele quisesse). Passamos um tempinho juntos, eu, Andrezinho e André (só nós três). Não consigo descrever esse momento em palavras. Foi mágico! O pai cortou o cordão e, pra minha tristeza separaram a gente. A minha tranquilidade estava na certeza de que André não se separaria dele durante os procedimentos invasivos no bebê. Foi o que aconteceu. Meu marido ficou com ele todo o tempo, assim como a Mônica, registrando tudo. Apenas as aspirações não foram feitas, mas foram administradas a vitamina e o nitrato de prata, mesmo com os protestos do meu marido.
Fiquei no centro cirúrgico só com o médico e a auxiliar esperando a expulsão da placenta e dos pontos necessários (houve laceração).
Fiquei numa sala em observação durante cerca de 30min, com uma mistura de felicidade e de inconformismo. Queria meu filho nos meus braços!!! Só o tive nos braços quando me levaram para o apartamento. E foi só nesse instante que pude amamentar meu bebê.
Encerro esse relato muito emocionada (mistura de emoções), afirmando que essa é uma história de amor, mas também de dor. Não me refiro às dores do parto, mas às dores do desrespeito e das violências obstétricas que sofri.
Lidiane dos Santos Barbosa






Horas depois fui levada ao centro cirúrgico (o hospital não tem sala de parto, não é preparado pra o parto normal, imagine humanizado). Algumas coisas não saíram como planejei no meu plano de parto. Como o hospital não é estruturado/humanizado fui levada para ter meu bb numa cama e tive as pernas fixas a uma barra. Essa posição me imobilizou. Achei terrível.

Outro fato ruim foi a discussão do meu marido com a pediatra que não queria atender nossa decisão sobre os procedimentos como a aspiração e nitrato de prata, afirmando que se negaria a fazer o trabalho dela se não pudesse fazer o que o ministério da saúde determina (fala dela). Meu marido desistiu de discutir na minha frente.

Aquela situação absurda realmente estava me atrapalhando. Então voltei a me concentrar e senti um misto de emoções acompanhado de dor, ansiedade e medo. O apoio das pessoas mais queridas naquela sala, meu marido, da Mônica e do Antônio Sérgio foram decisivos pra conseguir viver o período expulsivo. Achei q não conseguiria, tive medo, não tinha forças (não havia me alimentado durante o dia pois vomitava tudo que comia).



A voz do meu marido no meu ouvido dizendo que ele tava vindo me fez encontrar a força que eu considerava perdida. Então ele veio, veio pra os meus braços. Esse foi o momento mais mágico, mais inexplicável que tive na vida. Vai ficar cristalizado na mente através da nossa troca de olhares que Mônica fotografou tão lindamente. Obrigada por todo amor que recebi nesse momento tão especial. Obrigada ao Roda-Gestante por me proporcionar a ressignificação do parto. Sem ele não teria tido a sensação mais maravilhosa de recebê-lo no meu peito ainda com o cordão umbilical pulsando, tendo meu marido Andre Rodrigues pra viver tudo isso conosco. Ele também se empoderou.






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