quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Relato de Cesariana Desnecessária de Tatiana Fonseca

RELATO DE CESARIANA DE TATIANA FONSECA - NASCIMENTO DE SOPHIA



em Maceió.

Por Tatiana Fonseca

Antes de falar do parto da Sophia preciso voltar 11 anos e falar de quando me tornei mãe, fiquei grávida pela primeira vez aos 22 anos de idade no penúltimo ano de faculdade de direito, estava com meu ex marido já há 8 anos, a gravidez foi uma surpresa mas muito bem aceita por todos.

No início da gravidez eu sempre falava que queria parto normal, mas era aquele falar sem convicção do que se diz, no meio da gestação eu já estava concordando com o meu GO em marcar a cesárea. Entrei em trabalho de parto com 35 para 36 semanas, fui medica e encaminhada para repouso, e assim fiz, até que a cesárea foi agendada para o dia 16 de dezembro de 2002, às 39 semanas, engraçado na madrugada comecei a sentir dor de barriga, que eu inocentemente achava que tinha sido por conta da orgia gastronômica cometida, eu sai e comi todo o chocolate do mundo para me despedir, afinal eu queria amamentar, bom eis que acordo a noite toda com uma vontade de fazer o número dois, mas nada de conseguir, até que acordei minha mãe às 4 e meia da manhã, e ela ao me ver disse você está entrando em trabalho de parto.

Tomei banho, eu deveria me internar às seis e meia da manhã, mas fomos um pouco mais cedo, internei, e durante todo o processo de internação eu sentia contrações, fui pro quarto e uma enfermeira que hoje eu sei tentava me fazer o melhor, vinha me escutava o coração da baby e tentava me fazer caminhar, ir tomar banho quente, ir pra bola, mas eu já tinha decidido que queria a cesárea, e assim meu médico chegou, tomei anestesia as contrações continuavam fortes, no próprio centro cirúrgico ele fez um toque pra ter certeza que ainda dava pra fazer a cirurgia, no toque ele sentiu a cabecinha mas fez a baby voltar um pouco pra cima, e assim nascia minha Mariana às 12:10 do dia 16 de dezembro de 2002, não amamentei logo, fui pra recuperação e depois pro quarto já eram quase cinco da tarde quando a pequena veio ficar comigo, o leite demorou a descer, acabaram dando soro glicosado pra ela, e claro ela não pegou o peito, já tive alta com receita do LA.

Na consulta com o pediatra (o melhor neonato de Brasília) ele me instruiu a continuar oferecendo o peito, mas era tarde demais, a pequena largou com apenas dois meses de vida, e aí veio a minha maior frustração, mas eu ainda não havia atentado para a violência do parto.

Em 2005 fiquei grávida novamente, e convencida de que não poderia parir nem discuti esse aspecto, discuti apenas os procedimentos com a minha filha, no fim da gestação diziam existir uma restrição de crescimento, e fizemos a cesárea com 38+3, a Ana Luiza veio ao mundo às 14:10 do dia 10 de setembro de 2009, pesando 3,510kg e medindo 50cm (cadê a restrição de crescimento?), ok eu já eu tinha aceitado a cesárea, mas briguei e amamentei a baby na sala de recuperação, fiquei com ele na minha maca e não permiti que a tirassem de lá, ela foi pro quarto comigo na minha cama, e claro o colostro desceu com facilidade, ela foi uma bezerra que mamou até 1 ano e 8 meses.

Me separei e não pretendia mais ter filhos, conheci meu marido em 2010 e logo fomos morar juntos, eis que em abril de 2013 me descubro grávida novamente, agora com maturidade, eu já sabia que queria parir, procurei grupos de apoio na internet, morando em Maceió um local que não conheço procurei me informar, dessa vez estava sem plano de saúde teria que parir pelo SUS, conheci o grupo Roda Gestante, frequentei as reuniões procurei por doulas, li livros de parto, li relatos de parto normal após cesariana, li sobre os riscos, sintomas de ruptura uterina, eu sabia que não ia ser fácil conseguir mas eu iria enfrentar o sistema.

Meu marido não tinha embarcado nessa comigo, queria que eu fizesse a cesariana e pronto, mas depois que mostrei todos os prós ele concordou, mas impôs se o médico determinar a cirurgia por algum motivo você vai fazer, eu concordei, claro não esperava ter que chegar nesse ponto. Mas como nada pode ser muito fácil na minha vida, afinal eu grávida longe da família, sem mãe que faleceu em 2011, me sentindo sozinha, sem plano de saúde, mas com a convicção de que ia conseguir, eis que com 38 semanas sinto o lado direito do meu rosto dormente, corro pra maternidade de alto risco, pressão baixa que me acompanhou a gestação toda, nem sinal de parto, sem explicação para a paralisia que começava, isso era um sábado, domingo acordei e não conseguia mexer o olho o direito, a boca também não se movia, segunda era dia de pré natal, e assim esperei, ao chegar no posto de saúde a eo me atendeu escutou a baby estava ótima, pressão continuava ótima, esperamos a GO chegar, ela me encaminhou para um neurologista, fui e me diagnosticou com paralisia de Bell, disse que em nada afetava a gestação e o parto, me encaminhou pra fisioterapia e lá se foi minha reserva pra ter uma doula, cada sessão de fisio me custava 50 reais fiz mais de 10 sessões.

Ok isso não ia minar minhas forças, consulta de 39 semanas tudo bem a baby alta, pressão normal, e estávamos chegando perto do natal a GO me pediu pra começar a ir semanalmente na maternidade pra acompanhar os batimentos cardíacos da Sophia de resto era esperar, nenhum toque desnecessário feito.

Comecei a sentir cólicas nada doloridas, eu estava calma, cheguei as 40 semanas e 4 dias fui na maternidade teoricamente seria a Nossa Senhora da Guia, cheguei e não podiam atender mais nenhuma gestante pois estavam lotados, pra completar a maternidade Santa Mônica estava de greve, eu tinha sentido cólicas e precisava escutar a baby, então atravessei a rua e fui no alerta médico, o GO me atendeu, fez toque e escutou o coração da baby, começam aí as desculpas, ele olha pra mim e fala Tatiana você tem 3cm de dilatação mas não vejo colo do útero favorável vamos ver sua pressão, mediu e estava 14X10 descanso deita do lado esquerdo, mede de novo 13X8, mais um tempo mede de novo 13X8 e ele fala a pressão tá oscilando a neném ainda está alta, não vejo como pré eclampsia mas fico preocupado, podemos esperar até amanhã de manhã, mas quero que venha logo cedo pra ser examinada e provavelmente ir pra cesárea. Eu podia não ter aparecido no dia 21, podia ter ficado em casa, mas estaria comprando sozinha a briga, meu marido já tinha batido o martelo, então no dia 21 de dezembro fui internada pra terceira e mais dolorida cesárea da minha vida, dolorida porque eu já sabia das maravilhas do pn, eu queria vivenciar essa experiência, mas fui com a coragem que Deus me deu, afinal minha filha estava chegando. Internei, lembram SUS, exame de anti HIV, colocaram o acesso pro soro e o soro, de repente entra uma enfermeira a GO quer 4 mulheres pro CO, e lá fomos 4 mulheres como se estivéssemos indo pro abatedouro, como quando se abate o gado, cada mulher é encaminhada pra uma sala de cirurgia, senta na maca, fica sozinha, o anestesista está passando por cada sala fazendo seu trabalho, não fala nada com você, chega a minha vez, ele vem aplica a ráqui, a GO entra e começa a cirurgia, ninguém fala com você, sozinha porque não permitem acompanhante, podia brigar, podia mas eu tava muito cansada de brigar, a médica começa e fala olha vou ter que fazer um corte maior você tem uma aderência enorme por conta das outras cirurgias, neném alta, força na barriga pra ela nascer, e nasce, chorando, aliás gritando, linda, e eu, eu mando laquear, não quero nunca mais ser mutilada desse jeito.

Termina a cirurgia e vou pra enfermaria onde ficaria acompanhada da minha princesa, eu revoltada pelo jeito que as mulheres são tratadas, mas feliz pela minha pequena, a noite uma enfermeira passa e diz você tá com pouco leite, me entrega um copo com leite, a Sophia chorando muito, damos o copo, até que resolvemos cheirar isso é LA, pergunto depois porque LA, resposta não temos banco de leite, eu olho e digo pois bem minha filha não vai tomar, vai esperar meu leite descer. Segunda logo cedo teste da orelhinha e depois chega os dados do baby, sim eles não informam na hora que nascem o peso dos babys e tamanho, recebo o cartão dela e vejo que ela nasceu com 3,190kg e 48 cm, logo depois a enfermeira passa e entrega a alta com a medicação que devo tomar, pergunto a neném tá de alta, resposta tá sim, e o pediatra vem quando olhar, não tem pediatra pra olhar não, oiiiiiiiiii? Vou pra casa, e logo no dia seguinte vejo que a minha pequena está amarelinha, é ainda bem que eu já tinha tido filhas, levei na pediatra e não era icterícia grave, Graças a Deus, mas sabe quando você se sente uma mercadoria, te abrem, arrancam seu filho e te mandam embora, é foi bem isso que senti.

Chorei sim, eu queria e sonhei com o pn, mas estava preparada pra ter cesárea se fosse preciso, mas nunca, nem em um milhão de anos eu estaria preparada para ser tratada como um pedaço de carne e menos ainda de ver minha filha ser tratada como mais uma, único lado positivo eles não dão banho no baby, apenas limpam com uma fralda de pano, o banho eu que dei no dia seguinte.
É isso um relato não de um parto mas de um nascimento, foi o que eu consegui ter, mas sei que sou forte, mais forte do que imaginei, e quanto a paralisia eu melhorei apenas uns 30% mas não me arrependo de ter esperado pelo parto.

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