quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Relato de Parto Normal Hospitlar de Jacqueline Freire

RELATO DE PARTO HOSPITALAR DE JACQUELINE FREIRE - NASCIMENTO DE MIGUEL


em Maceió.

Demorei muito para me convencer a escrever este relato, por que ainda sinto que preciso aprender mais sobre parto e intervenções e tudo o que envolve esse tema. Me passei em muitas coisas nessa vida de primeira gravidez, mas resolvi escrever para contar um pouco do que senti em relação à dor e ao parto em si. Já que infelizmente, a maioria das minhas amigas e conhecidas hoje, fazem uma cesária eletiva e totalmente desnecessária, por medo da dor.

Pois bem. Minhas contrações começaram com um alarme falso, da noite do dia 20 para 21 de abril. Fiquei a noite inteira sentindo contrações que duravam 20 a 30 segundos e que vinham de cinco em cinco minutos. Eram dores como cólicas menstruais fortes e perfeitamente suportáveis. O tampão mucoso começou a sair e eu fiquei metade da noite no chuveiro quente e ansiosa achando que meu bebê estava chegando. Ligamos para o dr. Antonio Sergio que pediu para esperar até as contrações serem três em dez minutos, ou num intervalo de 3 em 3 minutos. Quando deu 6h eu já estava super ansiosa e resolvi ir pro hospital. Mesmo não tendo alterado muito o quadro das dores. Chegamos no Arthur Ramos e logo em seguida chegou o dr. Antonio. Quando me examinou eu estava com 2cm de dilatação e ainda não estava em trabalho de parto. Ele me mandou voltar pra casa e descansar. Não sei se a ansiedade passou, mas as contrações sumiram. Eu fiquei o resto da semana sem sentir coisa alguma e meio que fiquei frustrada.. rs

Mas então no sábado, 26 de abril, resolvi dar uma forcinha.. Passei o dia visitando amigos e à tarde fui ao shopping e andei durante uma hora. Às 21h comecei a sentir contrações novamente. Do mesmo jeito da semana anterior, eram dores como cólica menstrual, um pouco mais fortes. Quando a dor vinha, eu me sentava no chão e contava até 30 e ela passava. Pedi ao marido para descansar por que dessa vez eu sentia que não ia ser alarme falso. - É estranho como a sensação de que vai acontecer mesmo, eu sabia que ele ia nascer.

Foi uma noite inesquecível pra mim, em termos de sensação da minha força interior. A dor vinha, eu sentava no chão, contava. A dor passava, eu cochilava, andava pela casa, sentava na bola... Deixei a casa no escuro e em silêncio, e fiquei ali sozinha curtindo o meu momento. No meio da noite comecei a vomitar muito, mas a dor continuava suportável. Umas 4h acordei o marido e pedi que ligasse para o médico, pois as contrações vinham a cada três minutos. Tomei um banho, me arrumei e fomos novamente para o Arthur Ramos, dessa vez sem tanta ansiedade, mais confiante.

Quando ele fez o exame eu estava com 5cm. Fomos fazer os procedimentos para o internamento e eu continuava vomitando. O dr. Antônio pediu que eu tentasse relaxar e mandou trazer sucos para me hidratar - apesar dele ter pedido, o hospital não permitiu que eu comesse - acredito que por essa cultura de cesariana, enfim. Então durante todo o dia eu só pude tomar líquidos. Minha mãe chegou, minha sogra e cunhadas chegaram e de repente o quarto estava cheio de gente me olhando e se assustando quando eu dizia que a dor tava vindo. Nesse momento eu comecei a ficar nervosa e com medo. O dr. Antonio veio novamente, me tranquilizou e me disse que eu estava dilatando, que era preciso ter paciência, que eu deveria andar e me movimentar. Fiquei com vergonha de pedir pro pessoal sair do apto, e me deixar sozinha, e aí fui tentando me acalmar apesar de tudo.

Às 10h mais ou menos, o dr. Antonio voltou e disse que uma outra paciente dele iria parir também e ele achava que seria primeiro que eu. Ele me ensinou alguns exercícios, me ajudou a respirar mais pausadamente na hora das contrações e até se abaixou comigo pra ajudar a dilatar. Fazia pouco tempo os vômitos tinham parado. O bebê da outra paciente nasceu às 11h. Pouco depois das 12h ele voltou e me examinou novamente, eu estava com 9cm. No último exame de estreptococos - no pré-natal, o meu resultado foi positivo. A conduta foi de tomar o antibiótico durante o trabalho de parto. Quando eu cheguei nos 9cm a bolsa estourou e aplicaram o antibiótico na minha veia. Não sei se foi isso, nesse momento eu senti dores mais fortes, a contração veio e parecia não passar. Chamaram o dr. Antonio e ele disse que estava na hora de ir para o Centro Cirúrgico.

Nesse momento da dor mais forte foi o único em que eu realmente saí do controle. Até então eu estava calma, tentando respirar, tentando controlar a ansiedade. Todos que me olhavam sentiam a minha tranquilidade. Mas então a ansiedade bateu e o nervosismo voltou e eu comecei a dizer que não estava mais aguentando, que tinham que fazer a dor parar e que eu queria que ele nascesse logo. Tudo isso deve ter durado um minuto. Logo chegou o pessoal para me levar à sala para o parto, e já no caminho a dor vinha e voltava como antes, acho até que mais fraca.

Depois de tudo organizado no Centro Cirúrgico eu estava fazendo força para empurrar às 14h. Nesse momento eu não sentia mais dor. Sabia que tinha que empurrar por que o dr. me dizia. Mas eu estava quase em transe. Rezei e chamei Nossa Senhora durante todo o tempo. Depois de uma hora, o bebê tinha coroado diversas vezes, mas voltava. O pediatra estava com cara de assustado e ouvi meu marido dizer para o dr. Antonio que talvez precisasse de uma episio.

Isso merece um comentário a parte. Durante as consultas, eu tinha falado diversas vezes que não queria o corte. O dr. Antonio - e acho que todo mundo sabe disso - sempre fala que episio "nem sempre". Então naquele momento em que eu estava já cansada, sem comer direito e que o bebê coroava e voltava, eu estava praticamente pedindo que alguma coisa ajudasse o bebê a vir mais rápido. A posição da maca do Centro Cirúrgico não ajuda - eu diria mesmo que só atrapalha. E aí eu digo que se eu tivesse estudado mais, se tivesse me controlado mais, teria exigido mais do hospital, eu estaria mais calma e possivelmente ele teria nascido mais fácil e rapidamente, sem precisar de corte nenhum. Mas ali, naquela hora, eu achei que precisava e quando eles olharam pra mim eu autorizei.

Depois do corte só fiz força mais uma vez e ele nasceu. Mas - como já se podia esperar - tive também uma fissura. Miguel nasceu às 15h04 do domingo, 27 de abril. Não escapou das intervenções médicas do hospital - a não ser da aspiração. Mas teve colírio e banho. Eu fiquei mais meia hora na sala para tomar pontos e antes das 16h já estava de volta ao apto. Miguel chegou uns cinco minutos depois de mim e às 21h eu já estava tomando banho sozinha tranquilamente, sem sentir incomodo algum.

Como o meu exame de estreptococos tinha dado positivo e Miguel demorou para nascer (segundo o pediatra - pq pra mim foi um tempo até razoável para o primeiro filho), fizeram um exame nele que deu alterado - até hoje não sei que exame foi esse, tudo era informado muito superficialmente, e ele achou melhor não nos dar alta no dia seguinte. Fomos liberados no terceiro dia, depois de vários exames feitos e constatado que ele não tinha estreptococos.
Enfim, apesar desse problema de não ter saído do hospital no dia seguinte, eu achei que fui tratada até bem para o que venho escutando sobre partos em hospitais. A conduta do dr. Antonio foi excepcional pra mim. Ele foi praticamente uma doula, me acalmando, me ajudando e respeitando as minhas vontades. Sobre a dor, foi totalmente suportável, e no final, eu me senti a pessoa mais poderosa do mundo. Quando ele nasceu eu me senti tão bem, mas tão bem, que parecia que 16h de trabalho tinham passado em 1 minuto. Tudo tinha se apagado e eu só via o bebê mais lindo do mundo ali em cima de mim, tão pequeno, tão indefeso, e que tinha nascido pela minha força, com o meu esforço. Eu acho que é a sensação mais maravilhosa do mundo, e pensar que eu estava ali com as mãos livres pra pegá-lo, acariciá-lo e que ele ficou um tempo ali se acalmando comigo foi muito bom.
Tive uma recuperação ótima, em uma semana já não sentia mais o corte e os pontos estavam caindo.

Talvez hoje eu pensasse num parto domiciliar. Mas até ali tinha muito receio. Só que vendo como esse mundo hospitalar de intervenções é, você precisa de uma equipe muito humanizada, e eu só tinha um go humanizado.

Eu sempre quis um parto normal, nasci de parto normal e minha mãe foi minha maior incentivadora. Se não tivesse conseguido com certeza hoje estaria muito triste. Em nenhum momento eu pensei em desistir. Mesmo quando o pediatra estava me olhando assustado e dizendo "nossa, tá difícil", nem assim eu achei que ele não nasceria ali. Eu tinha certeza de que conseguiria. Por isso, pra quem quer um parto normal, meu maior conselho hoje é, informe-se e não desista, você consegue.


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