quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Relato de Parto Domiciliar de Débora

RELATO DE PARTO DOMICILIAR DE DÉBORA - NASCIMENTO DE MARIA



em Maceió.



Na terça-feira, por volta das 18h, assistíamos a um filme em casa quando a Debi falou que estava sentindo umas dores que se repetiam. Ela já vinha sentindo dores assim, com enrijecimento da barriga, há alguns dias nas duas últimas semanas, mas sem ritmo.Ficamos observando e anotando os intervalos, que eram varáveis entre 5, 7, 9... 10 minutos; e assim se mantiveram ao final da noite: uma contração a cada 10 min.

À meia noite informamos a Juliana, que nos orientou descansar ao máximo e a avisar quando as contrações fizessem 03 a cada 10 min. Assim tentamos proceder. Tentamos? Sim, eu até que consegui uma boa noite de sono; mas a futura mamãe Debi ficou um pouco ansiosa, e esta ansiedade associada às dores das contrações já regulares só lhe possibilitaram alguns preciosos cochilos.

Embora ainda incertos do início do trabalho de parto, na mesma noite resolvemos avisar a Natasha, nossa amiga do coração que ficaria responsável pelas fotos e filmagem; já que ela mora em Aracaju e só há três horários diários de ônibus fazendo o trecho AJU-MCZ.(Débora) De alguma forma eu sentia que estava acontecendo, como senti que estava grávida antes da confirmação do exame... meu corpo comunicava.

Tudo “encaminhado”, formos dormir. No dia seguinte, quando acordamos Debi sugeriu que tentássemos antecipar nossa consulta como Dr Antônio Sergio (nosso GO), que estava agendada para o período da tarde. Ela queria alguma “confirmação” de que estava em trabalho de parto.No caminho, passamos numa padaria próxima de casa e já providenciamos várias guloseimas para aquela tarde que prometia muitas emoções.

Chegamos à clínica e fomos encaixados para atendimento prioritário, já que havia sinais de contrações cujos intervalos eram de 5 min agora. O Dr A S nos recebeu carinhosamente e sorriu quando relatamos sobre o que vinha ocorrendo desde a noite anterior. Conversamos sobre o processo do parto, mais uma vez, e ele cuidadosa e respeitosamente colocou a possibilidade do toque à nossa escolha, ressaltando: “... já que vocês querem tudo da forma mais natural possível.” (Débora) Eu desejava realizar o exame naquele momento, sentia-me tranquila e confortável: “Eu desejo fazer”, afirmei sem vacilar.

Ele explicou como seria realizado o exame e orientou o que a Debi poderia fazer para diminuir o desconforto. Confirmou, então, 2 cm de dilatação! Cautelosamente, sinalizou-nos que seria possível termos Maria Eduarda conosco até o dia seguinte, encaminhou-nos pra casa com a orientação de bastante descanso e, olhando firme nos da Debi reafirmou força e potência dela para parir. Perguntou se estávamos com tudo preparado para o parto em casa e lembrou que estaria à disposição a qualquer hora, pedindo que o mantivéssemos informado. (Débora) Foi um encontro inspirador!

Àquela hora a minha mãe, que ficaria responsável pelas questões práticas (no pré, parto e pós), já tinha vindo ao nosso encontro. Pegamos a Natasha na rodoviária e seguimos de volta pra casa. Em casa, Debi continuou monitorando as contrações junto com a Natasha. Elas subiram pro nosso quarto pra Debi vestir uma roupa mais confortável e separar o que necessitasse. Enquanto isso, eu organizava a piscina e outros detalhes na casa, pois logo deveria estar livre e disponível para a Debi durante o processo. Às 13:30h bolsa se rompeu e avisamos à Ju que já eram 03 contrações a cada 10 min.Iniciamos algumas técnicas para alívio da dor, banhos morno no chuveiro, movimentos sentada na bola, massagens... Logo a Ju chegou. Cumprimentou todos, organizou o material e realizou as primeiras assistências à Debi: aferiu a pressão, mediu a temperatura e auscultou os BCF. Tudo correndo bem, enquanto Natasha registrava tudo discreta e incansavelmente, eu finalizei a parte da piscina.Logo depois chegou a Tainá, EO convidada por Juliana para auxiliar na assistência do processo. Ainda não a conhecíamos, mas a empatia e vínculo foram imediatos. Ela trouxe uma banqueta de parto que foi essencial para a evolução do processo, e uma ótima sintonia conosco.O trabalho de parto transcorreu por toda à tarde, e adentrou a noite. Debi se alimentou a vontade, deambulou procurando os lugares e posições mais confortáveis e esteve tranquila e concentrada a todo o momento.

(Débora) Minha amiga Natasha usou uma frase que descreveu bem minha postura naquele dia tão especial: “... Débora estava tão concentrada no parto que nem falava pra não gastar energia”. E foi mais ou menos isso! Eu estava tão envolvida naquele processo que apenas respondia ou me comunicava com o olhar e alguns gestos discretos e suaves. Sentia como se houvesse um campo energético nos envolvendo: eu, a Maria Eduarda e o Junior. Eram corpos e mentes num só movimento!!! Assim eu estava, conectada aos meus amores, explorando cada movimento desse campo e todo o resto ao redor corria a parte da minha consciência. Seria isso a partolândia?!

Após explorar todos os modos e movimentos, piscina, banqueta, agachamento, bola, cordas, etc., aos poucos fui percebendo como se comportava meu corpo e como era o fluxo das contrações em cada situação. Estive tão tranquila que pude aproveitar ao máximo os intervalos das contrações... às vezes até cochilava. A Ju me estimulava a levantar e me movimentar, e percebi que isso me ajudava no trabalho de parto. Caminhamos, dançamos e movimentamos a pelve. É fundamental destacar que o Junior estava grudado em mim em todos esses momentos, me motivando, me apoiando, me segurando, me ocitocinando!!!

Algum tempo depois, a Ju verificou que a dilatação estava em torno de 07 cm (por um método que se chama “linha púrpura”). Ela e a Tainá sempre nos “assegurava” que a Maria Eduarda estava vindo suavemente. Suavemente, porém forte! Os BCF da danadinha se mantinham constantes, entre 130 e 140 bpm, em todas as auscultas (antes, durante e após as contrações), sem nenhuma braquicardia. Contudo, me parecia que o coraçãozinho permanecia na mesma posição, como se ela não estivesse rotacionando, já que ela estava de direita. Quando percebemos já era noite, e a essa altura já imaginava que adentraríamos a madrugada. (Débora) Eu partilhava desse pensamento, embora não tivéssemos comunicado um ao outro naquele momento. Ainda assim, não desejei nenhum toque para verificação, pois não queria perder o controle da minha calmaria e me pôr ansiosa. Decidi me entregar a cada contração sem pretender expectar quantas mais ainda viriam. Senti dores sim!!! Guardo a sensação de certo medo de não conseguir. Mas em nenhum momento pensei em desistir. Aos poucos fui me encontrando cada vez mais no processo, e percebi que quando estava na piscina, imersa à água morna, relaxava tanto que as contrações ficavam mais espaçadas. Então, resolvi me movimentar mais e explorar mais a banqueta, que as estimulava. Permanecia ali até onde fosse possível aguentar as dores das contrações que ficavam mais próximas e longas. Por volta das 19h45, as luzes da casa estavam quase todas apagadas. As enfermeiras deitadas ao chão, com lanternas de celulares acessas, procurando uma posição para observar a vinda da Maria, enquanto a Debi estava sentada à banqueta. Quando já avistavam a chegada dela através do canal, convidaram-na pra ir piscina, mas ela preferiu permanecer um pouco ainda ali, para estimular mais algumas contrações.

Era chegado o momento do expulsivo! Fomos pra piscina aguardar que as próximas contrações nos trouxessem a nossa bebê. O quarto estava todo preparado, aquecido. Suávamos com o calor, pois não queríamos ventilação a não ser a suave brisa que entrava pela janela (precisávamos manter a temperatura da água em 38C). Enquanto isso a Ju refrescava a Debi a alimentando com sorvete e a Tainá a abanava para amenizar o calor. (Débora) Nesse momento, as contrações eram bem próximas e fortes, me agachava na piscina envolvida pelo Gilson e sentia cada vez mais próximo o momento. Começava a sentir vontade de fazer força e, mesmo diante do novo e desconhecido identificava algo familiar. 

(Débora) Senti uma forte contração e veio o círculo de fogo! Adotamos, então, a posição do expulsivo e a Ju falou: “Mulher, recebe tua filha, ela tá aí!”. Nesse momento o Junior sinalizou à Ju pra lembrar-se da circular de cordão. Agora coroada, foram mais 02 contrações, na segunda a cabecinha saiu totalmente e a Ju verificou que a circular estava folgada e preferiu não intervir. Foram 03 min submersa. Nós emocionados, e eu ouvia a música que tocava e pedia à natureza que me mandasse mais uma contração para receber minha Maria nos braços. Respirava, de olhos fechados, respeitando o tempo daquele momento. Ali, entedia que fazer força seria em vão. Precisávamos ser todos juntos, sintonizados e conectados: eu, o Junior, a Maria e a contração. E assim se deu! A última contração veio como uma deliciosa onda que se uniu à nossa força e trouxe nossa filha, nosso amor!!!

A circular foi retirada cuidadosamente e a Maria veio para os braços da mamãe. Saímos da piscina e fomos para o sofá para a expulsão da placenta (esse será um relato à parte que ela poderá compartilhar em reunião do Roda, pois a danada demorou 1h45 para sair). Maria mamou logo no primeiro instante e o cordão foi cortado só quando parou de pulsar, como desejávamos. Enquanto Debi recebia os cuidados de Tainá, Ju verificava como Maria estava. Nossa pequena veio ao mundo às 20:52h, do dia 12 de março de 2014, com 03 kg e 48,5 cm. Saudável e vigorosa!

(Débora) Foi perfeito com todas as imperfeições! A experiência mais incrível de nossas vidas!!! Sinto-me ligada aos meus amores por essa luta e pelo amor que dela se alimentou. Ao Junior, dedico minha gratidão e amor eternos. Foi minha força em tantos momentos, presente comigo, presente em mim... ele pariu conosco!!!

Nossos agradecimentos À Natasha pelo apoio para além dos ofícios técnicos que lhe foram atribuídos; foi uma Doulinha, sonhou conosco, acreditou e se realizou nessa experiência também.

À Rejane, pelo apoio incondicional, sereno e discreto; cujos cuidados foram essenciais.

À Ju e à Tainá, pelo profissionalismo humano, próximo e caloroso; pelas sinceras expressões de carinho e acolhimento.

A Maria Aparecida, pela presença de amor.

Ao Dr Antônio Sergio, pelo incentivo e orientação em todo o pré-natal, que sempre se mostrou confiante na realização do nosso desejo, e cuja força foi essencial para o nosso empoderamento. Desejamos que ele continue na trajetória de possibilitar a vinda de nossos filhos ao mundo através dos hormônios do amor.

Ao grupo Roda-Gestante, pelo acolhimento desde a primeira reunião, que nos possibilitaram o amadurecimento consciente do desejo de parirmos com respeito.

Toda a luta e preparação valeram a pena; sobretudo porque acreditamos na força do ato que lançamos no mundo.

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