domingo, 25 de novembro de 2012

Violência obstétrica - a voz das brasileiras

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres



Eu confesso que nunca havia pensado sobre algumas coisas que me aconteceram no nascimento da minha filha como violência obstétrica. O processo imediatamente anterior ao nascimento dela foi aproximado ao que eu gostaria. Mas assim que ela nasceu, sucederam-se alguns fatos bastante desagradáveis (e que agora vejo como violentos).

Ela ficou por alguns minutos perto de mim, mas não me foi entregue, como eu sonhei. Ficou ali, sendo "mostrada" a mim e foi levada em seguida. Sim, ela estava sob meu ângulo de visão. Era alojamento conjunto, eu podia vê-la o tempo todo, mas não houve o contato pele a pele imediato. Eu não podia tocá-la. Não me foi permitido amamentá-la imediatamente ao nascer, só um tempo depois. E olha que eu perguntei, viu? Perguntei: "Quando ela vai mamar?" "Daqui a pouco, tenha calma", foi a resposta. Então fizeram alguns procedimentos nela (não sei exatamente quais) e me trouxeram para amamentá-la. Acredito que se passaram uns 10 ou 15 minutos, não sei precisar.

Ela estava em meus braços para que eu pudesse amamentar. Deveria ser um momento sublime. Deveria. Mas eis que a médica, a pediatra, afirma veementemente: "não gostei do seu bico". E ficava repetindo coisas como não vai dar certo, você não vai conseguir amamentar. Animador para uma recém-parida, não?

De fato, algumas coisas não deram muito certo. Não fui bem orientada. A pega da minha filha não foi muito boa. Tive fissuras. Na primeira noite de vida, com apenas 24 horas de nascida, minha chorou muito. Muito. Muito mesmo. Foi na madrugada. Eu não sabia o que fazer. Ela estava desesperada. Eu angustiada. Minha mãe, que me acompanhava aquela noite, também. Então ela teve a ideia de chamar ajuda. Veio uma técnica em enfermagem, que falou: "recém-nascidos são assim mesmo, choram muito de madrugada; é que a família pisa em ovos de dia, a criança dorme muito e de noite não tem sono. É só isso?" Essas foram as palavras da pessoas que, teoricamente, estava ali pra me ajudar. Me senti péssima, humilhada. E ela, com sua cara de sono (que fora interrompido), foi-se embora.

Na manhã seguinte recebemos alta e fomos para nossa casa. Meus seios começaram a ficar cheios de fissura. Eu amamentava sentindo muita dor. Mordia uma fralda pra conseguir dar o peito. Minha filha chorava muito. Eu chorava junto. De dor, de angústia, por vê-la chorar e não conseguir consolá-la.

Comecei a perceber que ela não urinava tanto quanto eu esperava. Troquei 4 fraldas em quase 2 dias, e nem tão cheias assim. Percebi que alguma coisa realmente não estava indo bem. Procurei ajuda em um grupo virtual de apoio à amamentação na rede social mais usada aqui no Brasil na época. Me orientaram a procurar um banco de leite. Até me passaram o telefone. Criei coragem, liguei. Me mandaram ir. A qualquer dia e qualquer hora eu poderia ir lá e eles me atenderiam e orientariam. E eis que com 3 dias do nascimento da minha filha, finalmente fui bem orientada.

Foi no Banco de Leite do Hospital Escola Santa Mônica de Alagoas que veio a "redenção" da minha amamentação. Foi lá que me ensinaram que amamentar não deveria doer. Que eu poderia massagear o seio pra aliviar as dores da apojadura. Que eu podia dar banho de luz nos seios pra fortalecê-lo (e me ensinaram como fazer isso). Me ensinaram a ordenhar leite. Me apoiaram, acreditaram em mim. E, principalmente, me explicaram que não havia nada de errado com o meu corpo.

Em 15 dias estive lá mais 2 vezes. Sempre muito bem recebida e bem orientada. Em 2 meses as feridas físicas foram saradas. E a amamentação foi estabelecida. Isso tudo afetou meu puerpério de maneira negativa. Foi uma angústia desnecessária. Afinal, já bastava todo o cansaço e dificuldade para adaptar-se a um novo ritmo de vida, tendo um bebê recém nascido em casa. Isis tem 2 anos, 5 meses e 8 dias de nascida. Não ficou sem mamar em nenhum deles. Mas foi por pouco, por muito pouco, que fico sem essa história de sucesso pra contar.

O que concluo, um tanto quanto óbvio, mas ainda em tempo: violência obstétrica não é necessariamente praticada pelo obstetra e nem somente até o momento em que a criança vem ao mundo. Aquele momento do pós-parto imediato, aquele delicado momento, pode ser alvo da sutil violência que muitas mulheres sofrem. Que é mascarada de conselho. De alerta. De constatação. Mas não, meus caros. O nome disso que sofri e muitas mulheres sofrem é um só: violência.

Esse vídeo, postado junto com meu depoimento, é o resultado de um trabalho iniciado há um ano. Que não se imaginava que tomasse essa proporção. Um trabalho que cresceu. E que agora amplia a voz das mulheres brasileiras que não eram ouvidas nesse sentido. Para saber mais, acesse o blog Cientista que Virou Mãe. Assista também o vídeo. É relativamente extenso, mas é importante e pioneiro. Permite a escuta de uma situação que, até então, era tratada como um mito, como se não existisse, como se fosse "frescura de mulher". É uma ferida exposta, mas que está sendo tratada. E nós, que compomos a Roda Gestante, temos orgulho em fazer parte desse movimento de "cura".

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