sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Nada de silêncio. Nada de 'mãezinha': nosso grito contra a violência obstétrica



Michel Odent diz que 'para mudar o mundo é preciso, antes, mudar a forma de nascer'. E fico cá com meus botões a questionar: 'e para mudar a forma de nascer, o que é preciso?'. Ainda sem saber ao certo, nós continuamos tentando e tentando..... enquanto compreendemos com muita clareza que a violência contra a mulher como um todo (e isso inclui a violência institucionalizada, a violência obstétrica...) faz parte de problemas MUITO MAIORES, que mais parecem palavrões (e deveriam ser mesmo): machismo e capital, o mérito é todo de vocês ;)

Nesse duelo de titãs contra mortais (com seus cortes na barriga ou na alma), vamos aos poucos constatando que, individual E coletivamente, para mudar a forma de nascer, é preciso 'apenas' mudar o mundo.

E acreditamos mesmo que podemos (e devemos mudá-lo). Que é preciso casas de parto, que é preciso enfermeiras obstetras na atenção ao parto, que é preciso uma reciclagem mental nos que compõem a medicina a partir da faculdade, que é preciso estrutura de trabalho para que os obstetras tenham condições de atuar num parto digno e que tenha como centro a MULHER e não o hospital ou as conveniências próprias.

Mas é duro, é difícil, e depende de muito mais recursos que nós possamos, sozinhas, obter.

Então vamos mudando nossos mundos particulares. Em nome de um nascimento digno para nossos filhos, em nome de uma experiência respeitosa, enfrentamos o discurso médico, enfrentamos a desatualização médica no que diz respeito à Medicina Baseada em Evidências, enfrentamos os olhares tortos dos familiares que já estão acostumados com a cultura tecnicista, hospitalocêntrica e patriarcal. Enfrentamos nossa falta de condições financeiras. Passamos nove meses de racionamento, fazendo vaquinhas, pedindo empréstimos, para pagar assistência humanizada, porque assistência humanizada significa desembolso próprio. Não se enganem, mocinhas, fugir da violência no hospital é mais caro do que muitas podem pagar. E reclamar de violência no hospital parece fetiche, quando tantas e tantas mulheres não têm a menor condição de fugir da violência, ou sequer têm garantias de que serão atendidas em trabalho de parto, com as maternidades públicas lotadas, UTIs repleta de bebês nascidos antes do tempo e com problemas respiratórios, decorrentes de cesarianas eletivas

Apesar de tudo, enfrentamos a nós mesmas. Enfrentamos todo o medo que esse sistema nos empurra goela abaixo porque, quando chegamos nesse ponto de entendimento, não podemos fechar os olhos e aceitar a situação posta por simplesmente ser teoricamente mais conveniente (conveniente para quem, aliás?).

E nesse momento de pedir 'basta' de violência obstétrica, o pedido é singelo e bastante educado: peço que as mulheres não tenham que pagar (e CARO, muito caro) ou confiar na sorte para não serem violentadas institucionalmente.

Pedimos o fim do terrorismo médico que leva mulheres a "optarem" por cesarianas desnecessárias. Pedimos o fim da prática de procedimentos dolorosos, danosos e obsoletos, como a ruptura artificial da bolsa, kristeller, episiotomia. Pedimos respeito pela liberdade da mulher em se alimentar e se movimentar conforme for o seu desejo durante o trabalho de parto. Que permitam a mulher parir na posição que for mais confortável para ela. Pedimos respeito pela autonomia da mulher sobre o próprio corpo. Pedimos respeito pelo bebê que está nascendo, sem a realização de procedimentos também desnecessários e dolorosos, como a aspiração nasal, sondagem anal e oral, aplicação de colírio de nitrato de prata para os casos que não necessitam dele.

Que os bons profissionais sejam valorizados para não descontarem (consciente ou inconscientemente) a violência diária em quem precisa deles em um momento tão especial. Que os maus profissionais procurem (e encontrem!) outra coisa para fazer da vida e deixem as mulheres parirem e os bebês nascerem com o mínimo de respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário