Michel Odent diz que 'para mudar o mundo é preciso, antes, mudar a forma de nascer'. E fico cá com meus botões a questionar: 'e para mudar a forma de nascer, o que é preciso?'. Ainda sem saber ao certo, nós continuamos tentando e tentando..... enquanto compreendemos com muita clareza que a violência contra a mulher como um todo (e isso inclui a violência institucionalizada, a violência obstétrica...) faz parte de problemas MUITO MAIORES, que mais parecem palavrões (e deveriam ser mesmo): machismo e capital, o mérito é todo de vocês ;)
Nesse duelo de titãs contra mortais (com seus cortes na barriga ou na alma), vamos aos poucos constatando que, individual E coletivamente, para mudar a forma de nascer, é preciso 'apenas' mudar o mundo.
E acreditamos mesmo que podemos (e devemos mudá-lo). Que é preciso casas de parto, que é preciso enfermeiras obstetras na atenção ao parto, que é preciso uma reciclagem mental nos que compõem a medicina a partir da faculdade, que é preciso estrutura de trabalho para que os obstetras tenham condições de atuar num parto digno e que tenha como centro a MULHER e não o hospital ou as conveniências próprias.
Mas é duro, é difícil, e depende de muito mais recursos que nós possamos, sozinhas, obter.

Apesar de tudo, enfrentamos a nós mesmas. Enfrentamos todo o medo que esse sistema nos empurra goela abaixo porque, quando chegamos nesse ponto de entendimento, não podemos fechar os olhos e aceitar a situação posta por simplesmente ser teoricamente mais conveniente (conveniente para quem, aliás?).
E nesse momento de pedir 'basta' de violência obstétrica, o pedido é singelo e bastante educado: peço que as mulheres não tenham que pagar (e CARO, muito caro) ou confiar na sorte para não serem violentadas institucionalmente.
Pedimos o fim do terrorismo médico que leva mulheres a "optarem" por cesarianas desnecessárias. Pedimos o fim da prática de procedimentos dolorosos, danosos e obsoletos, como a ruptura artificial da bolsa, kristeller, episiotomia. Pedimos respeito pela liberdade da mulher em se alimentar e se movimentar conforme for o seu desejo durante o trabalho de parto. Que permitam a mulher parir na posição que for mais confortável para ela. Pedimos respeito pela autonomia da mulher sobre o próprio corpo. Pedimos respeito pelo bebê que está nascendo, sem a realização de procedimentos também desnecessários e dolorosos, como a aspiração nasal, sondagem anal e oral, aplicação de colírio de nitrato de prata para os casos que não necessitam dele.
Que os bons profissionais sejam valorizados para não descontarem (consciente ou inconscientemente) a violência diária em quem precisa deles em um momento tão especial. Que os maus profissionais procurem (e encontrem!) outra coisa para fazer da vida e deixem as mulheres parirem e os bebês nascerem com o mínimo de respeito.
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